As interações medicamentosas podem ser definidas como modificações nos efeitos de um medicamento decorrentes do uso recente ou concomitante de um ou mais medicamentos (interações farmacológicas), da ingestão de alimentos ou mesmo de suplementos alimentares.
É sabido que o uso combinado de certos medicamentos pode aumentar significativamente o risco de interações medicamentosas, exigindo, portanto, uma avaliação criteriosa pelo profissional de saúde quanto à eficácia, segurança e/ou alternativas farmacoterapêuticas.
Outros fatores também podem contribuir para o surgimento de interações medicamentosas, dentre eles podemos citar pacientes portadores de alterações nos níveis de proteínas plasmáticas, pacientes portadores de problemas renais, pacientes portadores de problemas hepáticos, pacientes idosos e/ou neonatos e pacientes obesos ou desnutridos.
A incidência de interações medicamentosas também aumenta exponencialmente com o número de fármacos prescritos, ou seja, os pacientes denominados polimedicados (mais de 5 medicamentos) possuem chances maiores de desenvolver interações medicamentosas
Basicamente podemos definir as interações medicamentosas em interações farmacêuticas, interações farmacocinéticas e interações farmacodinâmicas. Essas interações podem influenciar as características dos medicamentos, aumentando ou diminuindo seus efeitos, que pode causar falha terapêutica ou mesmo toxicidade ao paciente. A título de curiosidade, destacamos que nem toda interação medicamentosa se manifesta de forma semelhante.
Embora esses termos possam parecer complexos ao público em geral, a seguir explicaremos as principais características.
A interação farmacêutica ocorre quando algum dos medicamentos é incompatível com o outro. Ela também é denominada de incompatibilidade medicamentosa, e deve-se às reações físico-químicas entre dois ou mais fármacos “in vitro”, isto é, antes da administração, quando combinado na mesma seringa, equipo ou frasco.
Já a interação farmacocinética é dada quando um dos medicamentos altera o perfil de absorção, distribuição, metabolização ou excreção de outro medicamento. Estas etapas são conhecidas por serem as etapas básicas que o medicamento percorre no organismo, desde o seu contato inicial (administração) até finalmente sua eliminação.
E por último a interação farmacodinâmica diz respeito às modificações nas ações fisiológicas dos medicamentos, quando comparadas aos seus efeitos farmacológicos em separado. Vale destacar que em determinados casos, esta interação pode ser benéfica ao paciente. Um exemplo clássico é quando utilizamos 2 antibióticos com mecanismos de ação diferentes para tratar uma infecção bacteriana.
Resumidamente, a farmacocinética está relacionada a como o organismo processa o medicamento, enquanto a farmacodinâmica diz respeito a como o medicamento atua no organismo para produzir o efeito terapêutico desejado.
Sendo assim, as interações medicamentosas podem interferir na redução da eficácia do tratamento medicamentoso, efeitos adversos e possivelmente o agravamento da doença do paciente.
As interações medicamentosas são classificadas de acordo com a severidade das mesmas:
- interações medicamentosas Leves: Não ocorrem mudanças significativas em relação aos efeitos terapêuticos.
- interações medicamentosas Moderadas: Ocorre quando a interação pode agravar a condição clínica do paciente, exigindo uma adequação no esquema terapêutico.
- interações medicamentosas Graves – Podem comprometer a vida do paciente, sendo imprescindível a intervenção da equipe de saúde.
Riscos da Automedicação
Enraizado na cultura brasileira, o ato de automedicar-se consiste em utilizar medicamentos por conta própria, sem a orientação de um profissional de saúde. De acordo com uma pesquisa realizada em 2024, O Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) revelou que 86% dos brasileiros se automedicam, sendo as mulheres, pessoas economicamente ativas e com maior nível de instrução, os grupos que mais realizam essa prática. Analgésicos, antitérmicos e antigripais, substâncias para ansiedade e perda de peso são os medicamentos mais utilizados.
Sem orientação profissional, é mais fácil cometermos erros na hora de utilizarmos os medicamentos que podem comprometer a nossa saúde, pois os medicamentos podem interagir entre si, causando agravos na saúde.
Abaixo, apresentamos alguns exemplos de interações graves:
Varfarina e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)
A varfarina é um anticoagulante oral amplamente utilizado na prevenção de tromboses. Quando administrada juntamente com anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), há um aumento significativo no risco de sangramentos, pois os AINEs potencializam os efeitos anticoagulantes da varfarina. Essa interação pode levar a hemorragias graves e exige monitoramento cuidadoso.
Barbitúricos e Benzodiazepínicos
O uso concomitante de barbitúricos (como o fenobarbital) e benzodiazepínicos (como o diazepam, clonazepam, bromazepam…) pode provocar sedação profunda, prejuízo da coordenação motora e risco elevado de depressão respiratória, especialmente em altas doses ou em pacientes vulneráveis. É importante destacar que o consumo de bebidas alcoólicas intensifica esses efeitos, pois o álcool também possuem ação depressora do Sistema Nervoso Central (SNC).
Os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina II (BRA) e Inibidores da Renina
Os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), como o captopril, e os Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina II (BRA), como a losartana, são indicados para o tratamento da hipertensão. No entanto, seu uso combinado — ou em associação com inibidores diretos da renina — pode resultar em hipercalemia (excesso de potássio), hipotensão grave, arritmias e disfunção renal. A prescrição combinada deve ser avaliada com cautela pelo profissional de saúde.
Antipsicóticos e Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS)
Os ISRS como a fluoxetina e a sertralina são amplamente utilizados para tratar transtornos depressivos e de ansiedade. Quando combinados com antipsicóticos como a risperidona, há risco aumentado de síndrome serotoninérgica, uma condição potencialmente grave caracterizada por agitação, tremores, hipertermia e alterações da pressão arterial.
Anlodipino e Sinvastatina
A combinação desses dois medicamentos pode elevar o risco de miopatias, incluindo rabdomiólise, uma condição grave que envolve a degradação muscular. Isso ocorre devido à competição pelo metabolismo na enzima hepática CYP3A4, o que leva ao acúmulo de sinvastatina no organismo. O ajuste de dose ou a escolha de outra estatina pode ser necessário.
Como prevenir interações medicamentosas?
- Comunique-se com profissionais de saúde: Sempre informe ao médico ou farmacêutico todos os medicamentos que você usa ou usou recentemente, incluindo fitoterápicos e suplementos.
- Leia atentamente a prescrição: Entenda para que serve cada medicamento prescrito e siga corretamente as orientações.
- Consulte a bula: As bulas contêm informações valiosas sobre possíveis interações e cuidados necessários durante o tratamento.
Estas simples precauções contribuem para a segurança, a eficácia e a continuidade adequada do tratamento, reduzindo o risco de interações medicamentosas garantindo uma farmacoterapia mais racional.
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Autor:
Bruno Paulino de Lima Costa