É difícil imaginarmos a nossa vida sem os medicamentos que temos disponíveis hoje em dia nas farmácias e drogarias. Pois, os medicamentos promoveram uma verdadeira revolução na humanidade logo a partir do início do século passado. Sendo usados para prevenir, tratar, curar sintomas e no auxílio ao diagnóstico em determinados exames.

A automedicação é conceituada como a prática de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado1. A automedicação ocorre, quando o indivíduo tem algum sintoma doloroso e/ou patológico e decide tratar-se. Embora sem a competência necessária para reconhecer distúrbios, avaliar sua gravidade e escolher a terapêutica mais adequada, o indivíduo assim utiliza um ou mais medicamentos acreditando resolver sua queixa. Por vezes partindo de indicações de outras pessoas não habilitadas, como amigos e familiares2.

No entanto, o uso de remédios para problemas de saúde é visto, muitas vezes, como uma solução imediata para aliviar sintomas como dores e mal-estar. Os efeitos das substâncias presentes nos remédios têm sido subestimados e a automedicação é, tradicionalmente uma prática comum entre os brasileiros, podendo causar graves danos ao organismo.

Segundo uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF), 77% dos brasileiros se automedicaram nos últimos 6 meses. Destes, quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, sendo um quarto (25%) o faz pelo menos uma vez por semana3

Alguns fatores podem contribuir para esta “cultura da automedicação”. Em primeiro lugar o grande quantitativo de farmácias no Brasil é uma realidade. Estima-se que no Brasil exista cerca de 90.000 farmácias no Brasil4, o que leva diretamente ao aumento da oferta de medicamentos à população. 

Segundo SILVA (2016), outros motivos também podem levar as pessoas a usarem medicamentos por conta própria, são a falta de tempo ou dinheiro para ir ao médico, desejo de alívio imediato dos sintomas, demora no atendimento das unidades de saúde no SUS, dentre outros5.

Possíveis complicações de se automedicar

 

1) Alívio dos sintomas que mascara o diagnóstico correto da doença

Ao usar medicamentos para aliviar imediatamente dor e mal-estar, o paciente pode estar mascarando a real causa daqueles sintomas. Dessa forma, a doença não é tratada corretamente e pode se agravar.

2) Reação alérgica

Ingerir medicamentos que não foram prescritos por um profissional da saúde pode causar reações não esperadas no organismo. Dentre as quais destacamos: Manifestações na pele, como coceira, urticária, angioedema, erupção na pele, formigamento e pele avermelhada, irritação nos olhos, inchaço da boca e língua e até mesmo o fechamento da glote.

3) Resistência aos antibióticos

O uso indiscriminado de antibióticos pode facilitar o aumento da resistência dos microrganismos àquela substância. Lembramos que a resistência bacteriana é uma das maiores preocupações mundiais atualmente.

4) Intoxicação

Usar medicamentos em doses inadequadas pode causar diversos impactos na saúde, A intoxicação proveniente dos medicamentos pode ser fatal. Segundo dados do Sinitox, os medicamentos eram a principal causa de intoxicação no Brasil em 2017(20637 casos, com 50 óbitos confirmados)6.

5) Gastos com uso inadequado de medicamentos

Segundo o pesquisador Gabriel Rodrigues Martins (2017), estima-se que o Brasil gasta 60 Bilhões são gastos com morbidade e mortalidade relacionada a medicamentos (MRM).

Não tome nenhum medicamento sem o conhecimento de seu médico. Você pode estar colocando sua vida em risco. Desde 2013, os farmacêuticos podem orientar e prescrever medicamentos que não necessitem de prescrição médica. Portanto, cabe ao farmacêutico orientar sobre os medicamentos que o paciente está comprando, inclusive os com apresentação de prescrição médica.

Referências:

  • Organização Mundial de Saúde (OMS) Dpt. Of Essential Drugs and other Medicines. The role of Pharmacist in self care-medication. Disponível em http://www.who.int/medicines/library/docseng_from_ a_to_z.shtml. Acesso em 01 nov. 2005.
  • SIMÕES, M.S.J. E FARACHE Fº, A. Consumo de medicamentos em região do estado de São Paulo(Brasil).Rev.Saúde Públ. v.32, p.43-9, 1988.
  • DATAFOLHA. CFF. Uso de medicamentos. Brasília: 2019. 84 p. Disponível em:

https://www.cff.org.br/noticia.php?id=5267. Acesso em: 27 jul. 2023.

  • Conselho Federal de Farmácia. Dados 2020. 2021. Disponível em: https://www.cff.org.br/pagina.php?id=801&titulo=Boletins. Acesso em: 27 Jul. 2023.
  • SILVA, Francyellen Almeida; DUARTE, Hellayne K. O. S.; RAIMUNDO, Ronney J. de Souza. Estudo sobre automedicação no uso de anti-inflamatórios não esteroides na cidade de Valparaíso de Goiás. Revista saúde e desenvolvimento, Goiás: v. 9, n. 5, p. 142-154, jun. 2016.
  • SINITOX. Casos, Óbitos e Letalidade de Intoxicação Humana por Agente e por Região. Brasil, 2017. Disponível em: https://sinitox.icict.fiocruz.br/sites/sinitox.icict.fiocruz.br/files/Brasil3_1.pdf acesso: 27/06/2023.
  • CFF. RESOLUÇÃO Nº 586 DE 29 DE AGOSTO DE 2013. BRASIL, 2013. Disponível em: www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/586.pdf acesso: 27/06/2023
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